Depoimentos

 

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O Porco

Uma história verdadeira, da qual participei pessoalmente foi o lançamento de um porco em Toledo, sudoeste do Paraná, em plena época do governo militar e da peste suína que teoricamente dizimava os rebanhos suínos do Estado.
Saímos daqui de Curitiba eu (Jota Derviche), o Fábio Camargo (perdi o contato) e o Maurício Sabino (atualmente voa helicóptero na Amazônia) no C-210, PT - BXU do comandante Hugo Tetto (hoje aposentado e pai do atual presidente do Aeroclube do Paraná, comandante Mario Tetto).
Era para ser uma simples demonstração para a prefeitura local em um parque de exposições de uma feira agro-pecuária. Mas os criadores de porcos locais estavam possessos com o governo que mandara abater todos os porcos da região para extinguir a peste suína e evitar sua propagação. Mais tarde veio a se saber que era uma simples jogada para diminuir o rebanho paranaense e aumentar os preços da carne. A tal peste, se existiu, nunca foi na proporção que se divulgou. Enfim, os porcos foram mortos e os fazendeiros tomaram o prejuízo. 
Resolveram então manifestar-se e nos usaram para tal. Quando chegamos na cidade, vieram com um imenso leitão de uns 45 a 50 quilos e pediram para lançá-lo de pára-quedas conosco. Problemão, mas na época era tudo diversão. Topamos a parada, pegamos um reserva de T-10 de um equipamento que havíamos levado para mostrar ao publico e adaptamos umas cintas e arreios que nos emprestaram. O tal leitão foi-nos entregue vestido a caráter, de terno preto e uma espécie da coleira que fazia as vias de gravata. No bolso do terno do bicho eles colocaram um discurso escrito que seria lido após a aterragem da criatura pelo Prefeito local, que obviamente era do então MDB.
Na época, o ministro da agricultura era o Delfim Neto e se vocês lembrarem, ele era bem parecido com um porquinho gordo, daí a idéia daquele povo em lançar o animal vestido a caráter, terno e gravata, fantasiado de Delfin. Tentamos levar o animal para bordo, mas ele relutava demais, creio que sabia pelo que ia passar, pobrezinho.
O farmacêutico local teve então a idéia brilhante de aplicar-lhe um tranqüilizante e aí foi fácil, mas tranqüilizou-o demais ! Quando decolamos, o coitado começou a vomitar, urinar e lógico..... defecar ! Imagina só a confusão a bordo ! Foi um Deus nos acuda, o cmdt Hugo, ficou puto da vida e falava mais palavrões do que um marinheiro grego ! Eu, que tenho estomago frágil, me aliei ao suíno e também vomitei. Os outros dois ficaram pasmos e "espasmos".
A situação só não ficou pior porque na época não usávamos porta em nossas aeronaves de lançamento como hoje e assim deu para de alguma forma suportar o cheiro até o lançamento.
Para lançarmos o porco a 1.500 pés apenas, simplesmente seguramos no punho do reserva e o atiramos para fora. A abertura foi um sucesso, navegou ao sabor do vento e pousou sobre uma árvore muito próxima do tablado onde seria e foi lido o discurso.
Nós demos graças a Deus por abandonar a aeronave na volta seguinte ainda a 2.500 pés, pois não conseguíamos ficar mais um  minuto a bordo. Pousamos e resgatamos o porco, junto com o seu discurso que foi solenemente lido pelo prefeito.
O retorno foi muito difícil pois o cheiro a bordo era insuportável e por muito tempo ainda o cmdt Hugo teve sua aeronave prejudicada e perdeu alguns clientes de táxi aéreo por isto.
Quando finalmente chegamos ao Aeroporto do Bacacheri em Curitiba, na noite de domingo, pensávamos que nossos problemas tinham acabado, mas não !
Estava-nos a esperar uma viatura do então DOPS (Departamento da Ordem Política e Social), a polícia dos milicos. Já haviam denunciado nossa "atividade política"e assim "ganhamos" uma carona até a delegacia e tivemos que dar um depoimento sobre o "caso".
Perguntas tipo : Quem contratou? Quem pediu? Por que fizeram? e outras mais. Ainda bem que naquele tempo um tio meu era Secretário de Segurança do Paraná e graças a ele fomos liberados não muitas horas depois e nunca mais nos incomodaram com aquilo. Do contrário, certamente teríamos sido presos como "terroristas".
 O incrível é que ninguém se preocupou se tínhamos NOTAM (não tínhamos!), se lançar porcos era legal, se o avião era homologado, etc.
Foi uma história bem engraçada e sempre que posso, eu conto.

                                                                                                            Por  
                                                                                                                   Jorge Derviche (Jota)