Depoimentos

 

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Descer equipado ? Nem pensar !

Voltávamos da cidade de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, rumo a Campinas.
Tínhamos feito uma demonstração de despedida em homenagem a um colega e voávamos em um Beech Bee pilotado pelo Carlos Edo, exímio piloto, pára-quedista e proprietário do avião.
Era final de tarde de uma segunda-feira morna e de céu limpo e a idéia era de chegarmos saltando em Campinas, cidade onde todos morávamos.
No meio da viagem fomos informados pelo piloto de que chegaríamos muito baixo em nosso destino e que não seria possível saltar.
Logo depois do desapontamento inicial, veio a idéia de saltarmos no meio do caminho !
Afinal, estávamos dentro de um avião sem porta, com os pára-quedas nas costas e não íamos perder a oportunidade de mais um salto, e ainda por cima, de graça !
Combinamos com o Edo para que passasse com o avião em cima da primeira cidade que surgisse, pois iríamos saltar.
Prá ficar mais emocionante ainda, fizemos questão de ficar longe da porta, sentados no piso do avião e sem vermos nada que se passava lá fora. Não tínhamos a menor idéia de onde estávamos. Apenas o Ricardo Pettená ficou observando a trajetória que o avião fazia, com a missão de garantir que não iríamos cair no meio do mato e sim no centro de alguma cidade.
Um bom tempo depois, entretidos num animado papo e quase esquecendo do que tínhamos combinado, ouvimos o barulho típico dos motores do Beech tendo a potência reduzida, sinal de que estávamos em cima de alguma cidade.
Sem esperar um segundo e sentindo a adrenalina subir rapidamente, corremos para a porta do avião e mergulhamos no espaço.
O Ricardo Pettená, o Marcos Pettená, o Rubão (Rubens Barbosa) e eu (Fideles) fizemos uma estrela, todos vibrando com aquele salto tão diferente !
Lembro-me de que a visibilidade era muito boa e enquanto caíamos vi que a cidade lá embaixo era de porte médio, com um bom número de prédios.
Após abrir o pára-quedas constatei que o vento estava muito forte, o que fez com que nos afastássemos bastante uns dos outros.
O Rubão pousou em uma pequena praça, o Marcos em frente a um Ponto de ônibus, o Ricardo em uma quadra de futebol de salão e eu em um lote baldio.
Logo que consegui me livrar de um cachorro que insistia em querer me morder, surgiu um garotinho de uns 10 anos de idade e que veio correndo em minha direção.
Perguntei a ele que cidade era aquela e a resposta, inesquecível, veio com o sotaque super carregado típico daquela região : Santa Bárbara d'Oeste !
Logo me perguntou se eu tinha algum brinde para ele, pergunta essa que foi feita a todos nós por muita gente.
Era incrível a quantidade de pessoas que tinha visto nosso salto, muitos pensando que se tratava de algum tipo de promoção.
De onde eu estava era possível ver as três procissões que se formaram em torno dos três amigos, cada uma em uma parte da cidade.
Assim, ficou fácil para todos nos reunirmos numa praça no centro da cidade.
Dobramos os pára-quedas, acompanhados da curiosidade e do olhar atento da multidão e nos dirigimos à Estação Rodoviária, onde pegamos um ônibus rumo a Campinas.
Nossa conversa principal naquela viagem de volta era uma só : Como é que tinha tanta gente olhando prá cima naquele final de tarde morno de uma segunda-feira ?!

                                                                                                             Por   
                                                                                                                    José Fideles.